quarta-feira, 28 de outubro de 2015

As origens históricas e conceituais da Sociologia

Origens da Sociologia:

 Ao analisarmos as mais variadas espécies de animais, encontramos comportamentos e relacionamentos que nos fazem pensar na existência de uma organização, de um ordenamento dentro da vida em grupo – “os animais se agrupam, convivem, competem, acasalam, sobrevivem e se reproduzem de forma mais ou menos ordenada, em função de suas características e do ambiente em que vivem.” (COSTA, 2012, p.11).
Segundo Fábio Konder Comparato (COMPARATO, 2013, p. 540-542) existe uma contradição original do ser humano, na sabedoria mitológica da sua criação:
“O mito da criação do homem, contado por Protágoras no diálogo de Platão do mesmo nome, é a mais preciosa lição que herdamos da sabedoria grega sobre as relações contraditórias entre a técnica e a ética.
Segundo o relato mitológico, chegado o tempo da criação dos animais, decidiram os deuses no Olimpo confiar a dois de seus pares, os irmãos Epimeteu e Prometeu, a incumbência de determinar as qualidades a serem atribuídas a cada espécie. Epimeteu (os nomes dos dois irmãos parecem ser um trocadilho composto pelo radical do verbo manthanô – aprender, estudar, compreender – e os prefixos epi (após) e pro (antes). Assim, Epimeteu é o imprevidente, isto é, “o que pensa depois”, e Prometeu, “o que pensa antes”.) propôs então a seu irmão que o deixasse fazer sozinho essa distribuição de qualidades entre as diferentes criaturas, ficando Prometeu encarregado de verificar em seguida que tudo havia sido bem feito.
Obtido o acordo de seu irmão, Epimeteu pôs mãos à obra e passou a distribuir as qualidades, de modo a assegurar a todos os animais terrestres, apesar de suas diferenças, uma igual possibilidade de sobrevivência. Assim, para evitar que eles se destruíssem mutuamente, atribuiu a certas espécies a força sem a velocidade, dando a outras, ao contrário, a velocidade sem a força. Da mesma sorte, a fim de protege-los contra as intempéries, Epimeteu revestiu os animais de peles ou carapaças adequadas. Quanto às fontes de alimentação, no intuito de preservar o equilíbrio ecológico, decidiu que cada espécie teria o seu alimento próprio no reino vegetal e que, quando certos animais servissem de pasto a outros, estes seriam menos fecundos que aqueles, de modo a garantir a sobrevivência de todo reino animal.
Estava assim Epimeteu pronto a declarar terminada a tarefa quando se deu conta, subitamente, de sua imprevidência: ele havia distribuído todas as faculdades disponíveis entre os animais irracionais, mas nada sobrara para compor o ser humano, que iria nascer nu e inerme. Foi nessa situação embaraçosa que Prometeu o encontrou, ao vir examinar se tudo havia sido bem feito. Que fazer? Esgotadas as qualidades destinadas aos seres mortais, só restavam disponíveis os atributos próprios dos deuses. Numa decisão ousada, Prometeu sobe então ao Olimpo e logra subtrair de Hefaísto e de Atena o conjunto das técnicas ou seja, a capacidade inventiva dos meios próprios de subsistência, a fim de entregar essa qualidade divina aos homens.
E assim se fez. Sucedeu, porém, que os homens, embora munidos da habilidade técnica para produzir os meiso de subsistência (peri ton bion sophian), revelaram-se desde logo incapazes de conviver harmonicamente uns com os outros, pois ignoravam a arte da política (politika sophia). Ora, esta era um atributo próprio de Zeus , e Prometeu já não tinha como voltar a escalar a acrópole e ludibriar a forte guarda pessoal do deus superno, para dele subtrair, como fizera com a técnica material, a nobre arte de governar.
Felizmente para a espécie humana, Zeus lançou os olhos à Terra e, compadecendo-se da situação aflitiva em que se encontravam os homens, ocupados em se destruírem uns aos outros em dissensões e guerras contínuas, temeu pela sua sobrevivência. Decidiu então enviar Hermes como seu mensageiro pessoal, recomendando-lhe que atribuísse aos seres humanos os sentimentos de justiça (dikê) e de dignidade pessoal (aidôs), sem os quais não há sociedade que subsista.
Antes de partir para a Terra, no entanto, Hermes indagou de Zeus se deveria repartir entre os homens o dom da arte política, da mesma maneira que o fizera com a habilidade técnica. Esta, com efeito, em suas diferentes modalidades, não fora dada a todos indistintamente, mas na proporção de um especialista para cada grupo, mais ou menos numeroso, de não especialistas. Assim, por exemplo, nem todos os homens precisavam entender de medicina, bastando que existissem alguns médicos para cuidar adequadamente da saúde geral da coletividade. A resposta de Zeus foi categórica: todos os homens, indistintamente, haviam de possuir a arte da política, pois, caso contrário, se apenas alguns fossem nela instruídos, não haveria harmonia social, e a espécie humana acabaria por desaparecer da face da Terra. O pai dos deuses chegou a recomendar a seu mensageiro que instituísse a pena de morte para todo aquele que se revelasse incapaz de praticar a arte de governo, pois ele seria como que o inoculador de uma doença letal no corpo da sociedade.”
Há também outro mito da criação do homem, que é o mito de Pandora, aí podemos observar nitidamente que o conteúdo valorativo transportado da mitologia para serem colocados em prática nas comunidades tribais.
Para Arnaldo Lemos Filho, (LEMOS FILHO, 2009, p. 19):
“Segundo a tradição mitológica grega, os deuses criaram os homens (apenas o sexo masculino) a partir da argila e os colocaram para viver na Terra. Muito embora não necessitassem trabalhar, sua condição de vida era ruim, semi-animalesca: viviam nus, não conheciam o fogo (porque os deuses haviam proibido), se alimentavam de comidas cruas e dos restos das carnes dos bois que, eventualmente, os deuses mandavam para os homens.
Prometeu o Titã responsável pelos raios e pelas tempestades, apiedou-se da sorte humana e, tendo roubado o fogo das fornalhas de Hefestos, presenteou-o aos homens, juntamente com o couro e com as carnes nobres do boi, subtraídas dos deuses.
Segundo o mito, conhecendo o fogo, os homens iniciaram seu processo de evolução, dominaram a técnica, desenvolveram os metais e a arte da guerra, aprenderam a cozinhar seus alimentos, a iluminar e a aquecer a noite. Com isso, foram tomados por um sentimento de poder e presunção, de mofo que não mais lhes convinha cultuar e respeitar os deuses. Decidiram, então, que eles, os homens, tomariam o lugar dos deuses.
Vencidos e humilhados pelos deuses, os homens tiveram que se submeter à justiça punitiva do Olimpo, que decidiu estabelecer alguns castigos: o primeiro deles foi o trabalho, a atividade de sobreviver com o próprio esforço e retirar da terra, pela labuta, o necessário para seu sustento; o segundo foi a criação da mulher, Pandora.
Tecendo a mulher com finos fios, os deuses determinaram que o deus Eros a tornasse bela e sedutora, de modo a despertar nos homens o sentimento de amor; pelas mãos de Afrodite, a deusa da fertilidade, os deuses fizeram com que Pandora pudesse gerar os filhos dos homens; finalmente, as Erínias inseriram no caráter feminino a curiosidade e pendores traiçoeiros.
Terminada a criação de Pandora, os deuses lhe deram de presente uma caixa contendo inúmeras virtudes e disseram-lhe que ela deveria dá-la aos homens. Entretanto, além de não lhe revelar o conteúdo do presente, proibiram-na de abrir a caixa até que encontrasse os homens.
Tomada de curiosidade no meio do caminho, Pandora não resistiu e abriu a caixa. Como as virtudes eram voláteis, voaram de volta para os deuses, restando apenas uma, a esperança, que permaneceu para acalentar os sofrimentos da humanidade.”
Esses mitos têm o condão de demonstrar como os homens indagavam e ainda indagam diversas características da condição humana: Quem somos nós? Por que vivemos assim? Qual é nossa origem?
Aliás, indagar, formular perguntas sobre diversos sentidos das coisas faz parte da condição humana.
A partir daí, podemos falar de Charles Darwin na teoria sobre a evolução das espécies, demostrou que o objetivo dos hábitos de vida, convivência e sociabilidade. Desta forma cada espécie de animais desenvolvem hábitos e comportamentos próprios que lhes permitem a reprodução e a sobrevivência.
O homem, também não poderia ser diferente, desenvolveu um processo de reprodução, sobrevivência e defesa. Assim, aprendeu várias ações e reações de maneira espontânea, que chamamos de instintos, não necessitando de aprendizado como respirar, engatinhar, alimentar-se, etc. No entanto, por uma série de dificuldades enfrentadas pelo homem em seu ambiente, este aprende a desenvolver habilidades e comportamentos que dependem de aprendizado.
A sociedade comercial e artesanal desenvolvida pelos gregos ao longo do Império Romano, a utilização da razão veio para que houvesse um desenvolvimento da sociedade. Porém, verificamos que após a queda do Império, a Europa passa a ser uma sociedade agrária e teocrática. Na Idade Medieval, a Igreja Católica no Ocidente era absoluta, a razão era utilizada como um instrumento para auxiliar a fé. Somente as ordens religiosas, em seus mosteiros, tinham acesso a textos de filosofia, geometria e astronomia. A população laicizada não participava desse saber.
O Renascimento, faz do homem ocidental sentir prazer de investigar o mundo.

As origens históricas e conceituais da Sociologia:

 Com o final da estrutura feudal e o surgimento da burguesia na organização social de produção capitalista, juntamente à Revolução Científica do século XVII e também à Revolução Industrial, e o surgimento do Estado Moderno, que descentraliza e institui-se com caráter social, político e jurídico, e os acontecimentos da Revolução Francesa trouxe a necessidade de investigar a sociedade de um modo diferente do que, até então, era feito pela Filosofia, pela Política, pela Economia ou mesmo pela História.
O século XIX foi marcado por intensas transformações sociais e políticas. Ocorreram mutações nas relações sociais entre os indivíduos, acrescentando-se, ainda, a migração populacional do campo para as cidades.
Ressalta-se ainda, que as relações de produção intensificaram a exploração da força de trabalho, gerando com isso, um acumulo de riquezas, e consequentemente a segmentação da sociedade e a segregação social.
São modificados os usos, costumes e tradições. São inseridos outros valores nas dinâmicas que movimentam não só as estruturas das organizações, como também, o cotidiano dos indivíduos.
O desenvolvimento industrial proporcionou uma busca incessante para pesquisas científicas e a tecnológicas, ajudando a consolidar o conhecimento iniciado na revolução científica do século XVII.
O final do século XIX abre, então, lugar para uma percepção bem mais complexa, para uma ciência aplicada. A sociedade passa a ser objeto de estudo de estudo específico, tendo por referência a Filosofia política.
Segundo Eduardo Iamundo: “pode-se dizer que as obras de Montesquieu, de Comte e de Marx, inserem-se no momento social em que os cientistas não davam a devida importância aos resultados práticos. A produção de Durkheim e da Sociologia posterior caracterizam-se por ser produções que encontram outra sociedade: a ciência em geral está preocupada com os resultados.” (IAMUNDO, 2013, p. 29).
Surge a Sociologia, de um lado, como imposição para explicação, compreensão ou mesmo como apreensão para sistematizar teoricamente as novas demandas que a sociedade vivenciava.
 Instituições sociais:
 As instituições sociais são as organizações em que as sociedades se estruturam e se movimentam. Na verdade a formação das instituições é originária de inúmeras determinações sociais e culturais presentes em uma sociedade ao longo da história.
“As instituições sociais nos remetem, inicialmente, às características que pontuam de modo significativo a organização social, isso porque tanto a estrutura quanto a função social estão intimamente vinculadas às normas institucionais a que os indivíduos se submetem. Nessa perspectiva, podem-se destacar, dentre outras, as seguintes instituições: o Estado, o Direito, a igreja, a família, a empresa e a escola.” (IAMUNDO, 2013, p. 30).
É muito nítido que as instituições sociais exercem sobre as pessoas uma pressão que impõe padrões de conduta e comportamentos.
 Instituições jurídicas:
 As instituições jurídicas originam das instituições sociais e possuem particularmente a função de exercer um controle e executar as funções legais com o objetivo de manter a organização social dentro do Estado na qual esta sociedade pertence.
“As instituições sociais apresentam a organização que a sociedade entende como necessária para a sua manutenção e as instituições jurídicas vinculam-se ao ordenamento jurídico.” (IAMUNDO, 2013, p. 31).
Basta analisar que quanto mais próximo o ordenamento jurídico da organização social, maior é a possibilidade de controle social por parte do Estado e juntamente com o Direito que será aplicável a esta sociedade.
“Assim como as instituições sociais possuem sua dinâmica, o mesmo acontece com as instituições jurídicas. As estruturas do Judiciário são obrigadas a seguir o que o ordenamento jurídico determina e este, por sua vez, é obrigado a seguir o que é determinado pelas instituições sociais (legítimo) para manter a organização social. Desse modo, pode-se entender a fundamentação do legal no legítimo da macroestrutura de determinada sociedade.” (IAMUNDO, 2013, p. 32).
As instituições jurídicas irão atuar de acordo com as determinações da Lei Maior, Constituição Federal frente as necessidades desta sociedade.
O processo de socialização:
Somente com a socialização o indivíduo distingue o que é institucionalizado como prática social e o que é instituído como ordenamento jurídico formal, como o Estado, o Direito, a família, a educação e outros institutos.
É fundamental analisarmos o dicionário de português, “Socialização: ato ou efeito de socializar; transformação, para o regime socialista, da estrutura econômico-política de um país ou de algum dos seus setores; coletivização ou estatização dos meios de produção e de distribuição; ação ou efeito de desenvolver, nos indivíduos de uma comunidade, o sentimento coletivo, o espírito de solidariedade social e de cooperação; processo de adaptação de um indivíduo a um grupo social e, em particular, de uma criança à vida em grupo”. (HOUAISS, 2009, p. 1761).
Devemos ressaltar que socializar é processar uma identidade na pessoa. A pessoa necessita de uma identificação com o outro. Assim, com a Socialização ocorre tanto a aquisição de comportamentos quanto de transformações comportamentais.
O processo educacional é um dos mecanismos de aquisições da socialização, seja ele formal ou informal. O processo informal envolve a família, a religião, a classe social, a prática cultural do seu estrato social. Nessa fase, iniciam-se a apreensão e o aprendizado de determinadas condutas, de determinadas práticas que faz com que o indivíduo se identifique com a sociedade a qual pertence.
Já o processo formal é aquele transmitido pelo Estado com as escolas e tem o mesmo caráter de formação de identidade.

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